Tudo o que aqui está escrito parecerá insano aos olhos dos simples mortais, mas o mais importante é que se trata de algo realmente insano. E se relato tais fatos é porque enlouquecendo recuperei minha sanidade e morrendo recuperei minha vida.
Ao abrir os olhos...Às vezes não gostamos do que vemos e às vezes o que vemos não gosta nem um pouco de nós. O ar me faltava nos pulmões. Eu realmente estava fazendo força e podia sentir cada um dos meus músculos com uma rigidez que não me lembrava de ter sentido alguma vez. Mas qual não foi a minha surpresa quando pude perceber que não era nem mesmo capaz se saber o meu próprio nome! Não, não foi como nascer, foi como morrer! Eu sabia que tinha uma vida e que provavelmente teria muitas coisas a fazer e resolver, mas por onde começar? Olhei em volta longamente, sem saber ao certo se esta seria a última ou a primeira vez que estava vendo este quadro insólito. Havia algo errado? Decerto que sim! Meu mundo se tornou monocromático, cinza e principalmente, embaçado. Sim, eu sabia exatamente (pelo menos eu acho) o que eram cores e não me lembrava de ter astigmatismo, mas a esta altura eu não lembrava nada sobre mim e nem mesmo sabia o motivo de estar ali. E enquanto pensamentos nebulosos invadiam a minha mente, tudo aconteceu: vultos se mexiam por toda a sala, como borrões. Àquela altura eu realmente acreditava ter morrido, e estava certo! Mas não do jeito que eu imaginava. Os borrões pararam de se mexer e eu então percebi o quanto era horrível o lugar onde me encontrava naquele momento: paredes sujas, chão deplorável, cortinas velhas, enfim, tudo tinha o aspecto e cheiro da decadência. “Por que estou aqui?” Eu pensei, mas quando pensei, nitidamente uma voz disse dentro de mim: a tua vida não mais interessa. Tua alma era tão impura que foste capaz de perdê-la! Olhe em volta e saberás o que fazer.
Àquela altura, não havia nada de errado em aceitar conselhos de um “amiguinho imaginário”, afinal, eu não sabia mesmo o que fazer...Então olhei em volta e vi um pequeno gravador, e então resolvi ouvir o que estava gravado. Quando liguei, começou a tocar uma música familiar que era então subitamente interrompida por uma voz clara e profunda. Esta voz marcava um encontro comigo, eu deveria procurar um lugar chamado “Ichabod*” e me sentar que o destino iria resolver todo o resto. Comecei a entender ainda menos, porém a curiosidade pode levar um homem aos maiores desatinos, como pude comprovar mais adiante. Deixei-me levar então pelos instintos que eu supunha ter, afinal eu posso ter perdido a memória, mas certamente aquela era a minha casa e de algum modo as coisas teriam que parecer familiares, ou não? Pois então, descobri que o lugar não era muito longe de onde eu estava. Andei apenas 3 quadras. Era um restaurante que servia comidas exóticas. Coloquei as mãos nos bolsos, procurando algum dinheiro ou cartão de crédito para pagar a refeição. Se ao menos eu encontrasse um cartão de crédito, poderia saber meu próprio nome...
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