"- Tenho sede dessa água, disse o principezinho. Dá-me de beber ...
E eu compreendi o que ele havia buscado!
Levantei-lhe o balde até a boca. Ele bebeu, de olhos fechados. Era doce como uma festa. Essa água era muito mais que um alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do esforço do meu braço. Era boa para o coração, como um presente."
Antoine de Saint-Exupery - Le Petit Prince
No último post comentei sobre a espera, dizendo o curioso papel que a espera tem no amor. A citação não é trivial: a água nasce da caminhada, do canto da roldana, do esforço do braço. De forma análoga penso sobre o amor. O primeiro olhar, o primeiro contato, o primeiro beijo tem muita importância para que algo aconteça, mas no entanto nunca amamos simplesmente um olhar, um contato, um beijo. Tenho a impressão de que o amor nasce da expectativa, do não-dito, do mistério.
Não amamos o previsível, o mensurável, o mecânico, a ordem. É o caos que encanta, que fascina. Podemos passar a vida inteira hipnotizados por algum detalhe que não conseguimos explicar. Penso então que o amor está no regime do inexplicável, no registro daquilo que não podemos verbalizar.
Ontem eu estava divagando, pensando em alguém e daí uma coisa incrível aconteceu: me vi sentindo seu cheiro; não o cheiro de um perfume ou coisa assim, mas seu cheiro de verdade. Fechei os olhos e pude vivenciar novamente coisas que há muito não sentia. Senti sua presença comigo. É como se para sempre tivesse ficado uma marca em mim, do tipo que não pode ser facilmente retirada.
Eu já gostava muito dele, mas penso que aquilo que foi construído depois foi muito mais sólido. Nasceu da angústia, da saudade, do suor e das lágrimas. Ainda me revolto quando as pessoas pensam o amor como a pacificação do sentimento. Ao contrário! Não existe pacificação para o amor. O amor pacificado torna-se outra coisa. Pode ser amizade, ternura, segurança, mas não amor. Estar enamorado de alguém é uma experiência que se aproxima da morte. Poderia-se dizer que é a morte de um eu em favor de outrem.
Alguns certamente dirão que isso é absurdo, que devemos conservar nosso "eu" e blá blá blá. Estas pessoas se anestesiaram e certamente não entenderão nada sobre o que digo. Jamais entenderão a proximidade essencial entre o amor e a loucura.
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